A importância de garantir a Segurança do Paciente como prioridade estratégica nas instituições hospitalares. Esse foi o tema da primeira edição do Medportal Convida, realizado no início de setembro com a ilustre participação da gestora em saúde e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberta Torquato.
Realizado online, para um número restrito de pessoas, o Medportal Convida sempre contará com a palavra de players importantes, cuja apresentação contribua de forma relevante para o nosso ecossistema.
Trata-se ainda de uma oportunidade de interação mais próxima entre os participantes, com discussões dos desafios em comum e troca de soluções.
História Recente
Mesmo em nível global, o debate sobre segurança do paciente é recente. Ele remonta a 1999, quando o Instituto de Medicina dos Estados Unidos publicou o livro “Errar é Humano: construindo um sistema de saúde mais seguro”, que alertou sobre a quantidade de mortes provocadas por falta de procedimentos de segurança mais apurados nos hospitais.
A partir disso, em 2004, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente e, três anos depois, estipulou uma série de desafios globais a serem cumpridos pelos países membros.
No Brasil, o debate teve início no ano 2000, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu início a algumas medidas de segurança do paciente. Elas ganharam concretude um ano depois, quando foi criada a Rede Sentinela, que monitora o desempenho e nível de segurança de produtos de saúde utilizados com regularidade.
Segurança do paciente: o que é preciso
Para que de fato um hospital garanta a segurança dos seus pacientes, Torquato listou sete pontos fundamentais.
. Estratégia: a segurança do paciente deve constar no planejamento estratégico da instituição – com budget, planejamento e estrutura próprios.
Ou seja, a segurança do paciente não pode ser um mero desdobramento de alguma outra atividade. Ela tem de ser priorizada e bem detalhada desde a base.
. Propósito: o conceito de segurança do paciente deve fazer sentido para a instituição, aos colaboradores, aos familiares – e ao próprio paciente. É preciso que todos entendam que ela é inegociável ao cuidado, sem margem para o “jeitinho”.
“Quando o hospital permite que o paciente tire a pulseira, por exemplo, nós estamos negociando a segurança dele mesmo. Isso não pode ser permitido”, comenta Torquato.
Por isso, todos os critérios de segurança têm de ser expostos e compreendidos.
. Conceito: o trabalho em segurança do paciente envolve uma série de conceitos que precisam ser dominados.
Para que todos cumpram as normas, é preciso que elas sejam entendidas. Assim, os seguintes termos têm de ser introjetados, tanto na teoria, quanto na prática: mínimo aceitável, quase falha, incidente com dano, incidente sem dano, circunstância de risco, near miss, eventos adversos, evento sentinela, entre outros.
“Saber o nome das coisas é libertador. Por exemplo: quanto mais ‘quase falha’ uma instituição tiver, mais segura ela é. Significa que nada chegou ao paciente, que ele não foi afetado.”
. Educação: é preciso que a instituição ofereça ininterruptamente programas de educação em segurança do paciente.
Esse ensino continuado é fundamental para que padrões e práticas sejam incorporados e os erros diminuam. Só assim há melhora na qualidade da assistência prestada ao paciente.
. Monitoramento: “Quem não mede, não gerencia. Quem não gerencia, não melhora.”
A frase clássica de Joseph Juran também se aplica à segurança do paciente. Somente ao se acompanhar os dados de perto é possível tecer uma análise crítica que revele o que é preciso melhor, onde há gargalos etc.
. Desenvolvimento: é necessário que se crie as condições favoráveis dentro da instituição para que os conceitos de segurança do paciente realmente sejam aplicados.
Afinal, os resultados só aparecem quando o que foi aprendido é posto em prática.
. Tecnologia e inovação: muitas vezes, ambas caminham juntas. Mas, é possível haver inovação mesmo em instituições que não têm à disposição as últimas ferramentas tecnológicas.
A necessidade pode ser uma alavanca para soluções criativas.
Mas, claro: a tecnologia, quando bem utilizada, oferece mais segurança ao paciente. Cirurgias robóticas, bipagem de medicação, curativos de biocompressão, engenharia de células, sistemas de integração de dados, aplicativos de apoio à tomada de decisão, bem como plataformas educacionais como a do Medportal são alguns dos exemplos.
De que forma tangibilizar
Para que hospitais e demais instituições de saúde transformem esses conceitos em práticas, é preciso organizar quatro frentes:
Núcleo de Segurança do Paciente (NSP): criar o NSP não basta. É preciso que ele tenha autonomia e trabalhe com eficiência os seguintes aspectos.
Melhoria contínua: promover a revisão constante das práticas assistenciais.
Segurança do paciente: disseminar a cultura de segurança dentro do hospital, mitigando riscos e melhorando a experiência do paciente.
Treinamento e desenvolvimento: realizar treinamentos, palestras e campanhas permanentes.
Monitoramento constante: estruturar, acompanhar e analisar os dados.
Dinâmica na saúde: acompanhar as mudanças na legislação, as terapias emergentes, os novos protocolos e tecnologias.
Gerenciamento de risco: é preciso que o hospital tenha noção dos impactos que um incidente em segurança do paciente pode acarretar à instituição.
Assim, é preciso saber quais as consequências legais e quais as consequências clínicas caso ocorra um incidente, bem como o peso que isso trará à imagem e credibilidade da instituição.
Com este gerenciamento, também é possível definir melhorias e mais recursos ao cuidado do paciente.
Cultura de Segurança: refere-se ao conjunto de políticas, normas, valores, atitudes e pressupostos relativos à segurança do paciente que devem ser inerentes à operação diária do hospital.
É preciso que o comportamento e as ações dos profissionais sejam moldados por essas regras.
“É aquilo que você faz durante o cuidado do paciente quando ninguém está olhando”, frisa Torquato.
Comunicação: este é o maior desafio para a segurança do paciente, uma vez que envolve a infinita complexidade das relações humanas.
Falhas de comunicação estão presentes em todos os incidentes ou situações de perigo aos pacientes.
Os problemas são inúmeros. Envolvem desde a fragmentação do cuidado, caligrafias ilegíveis, prescrições incompletas, falta de informações no prontuário, trocas de plantão feitas no “boca a boca”, ausência de transição do cuidado e transferência do paciente.Por isso, a instituição precisa prestar especial atenção às formas com que está se comunicando. Hoje, há uma série de ferramentas e medidas que podem ser de grande auxílio: round multidisciplinar, recursos de passagem de plantão, ferramentas de transição do cuidado, completude dos impressos relacionados ao cuidado do paciente, validação das prescrições, quatro registros internos etc.
Registros e notificações
Outro ponto que precisa ser revisto é o receio dos hospitais em fazer notificações.
Registrar minuciosamente o cuidado de cada paciente, relatando as intercorrências ocorridas no atendimento, não é demérito nenhum. Pelo contrário: as notificações salvam vidas.
“As instituições precisam saber que um grande número de notificações não representa baixa performance do sistema, e sim oportunidades para melhoria dos processos”, conclui Torquato.
Com isso, todos ganham – principalmente quem mais importa: o paciente.
Medportal Convida
O projeto Medportal Convida é composto por Masterclasses exclusivas para a comunidade de clientes assinantes do nosso Pacote de Aceleração.
Porém, em setembro, o Medportal Convida estará aberto e disponível para todos os nossos clientes. Um presente para você neste que é o Mês do Cliente.
Por isso, não perca os próximos assuntos. Abordaremos a aplicação de protocolos de segurança, o gerenciamento de metas internacionais, estratégias para a conquista de acreditações, o acompanhamento de indicadores de segurança do paciente, entre outros.
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