Qual é o papel de um gestor de tecnologia em um hospital? É uma pergunta simples, mas que leva a uma reflexão importante na resposta.
A função primordial de um CIO (Chief Information Officer) é manter em pé os sistemas de informação que abastecem a instituição. É óbvio, mas essa função ganha um status diferenciado quando o cliente é um hospital.
Falhas no sistema podem causar problemas reais para pacientes – os chamados “eventos adversos”. Por isso, em hospitais, o cuidado com a simples manutenção dos sistemas é uma tarefa à parte.
Sanada essa questão, qual é o próximo passo? Para onde avançar? Para buscar essas e outras respostas, recorremos a Cláudio Giulliano Alves da Costa, CEO da Folks, empresa especializada em consultoria e treinamento em saúde digital, representante oficial e exclusiva da HIMSS Analytics para América Latina.
CIOs como protagonistas
Os CIOs de hospitais brasileiros acostumaram-se por anos a serem demandados em vez de demandarem. Acabaram por adotar uma postura passiva e pouco pró-ativa na solução de problemas. Parte disso é fruto do próprio perfil dos profissionais, mas, em grande parte, isso se deve ao próprio sistema de gestão, centralizador e fechado, adotado pelas instituições. Mas esse contexto está em profunda transformação.
Prova disso pode ser demonstrada pelo Índice de Maturidade Digital medido pela Folks em seus hospitais parceiros. No Brasil, o índice médio de maturidade é de 44% (de 0% a 100%). Isso significa que os hospitais cumprem o básico em relação à tecnologia: possuem sistemas informatizados para hotelaria, prontuário eletrônico e funções back office (financeiro, RH, etc).
Mas, de forma geral, muitas instituições ainda não deram o passo à frente. Como exemplos práticos do que seria esse avanço, Cláudio Giulliano cita o check in online do pronto socorro, antes mesmo do paciente se dirigir ao hospital (“para chegar com a ficha pronta e o atendimento liberado pelo plano de saúde”), ou o GPS Indoor, para que o paciente possa se localizar com mais precisão na hora de fazer um exame dentro do hospital.
“Ainda falta muito (para a transformação digital completa nos hospitais), mas é algo que todos estão buscando”, afirma Cláudio.
Capacitar é preciso
Segundo ele, a chave para essa evolução está na capacitação dos CIOs. “Fazer a transformação digital depende de conhecimento, e esse é um grande gap no Brasil. A maior parte dos CIOs não está preparado para liderar a transformação digital nos hospitais. E isso inclui também buscar outras habilidades da função, como liderança e comunicação”, afirma.
O CEO da Folks, que é médico e tem mestrado em Informática em Saúde, diz que um bom CIO, que ele classifica como “CIO visionário”, tem que se apoiar em um tripé de competências: tecnologia, saúde e gestão.
Tecnologia e educação corporativa
Empoderado pelo conhecimento, o CIO passaria a atuar elaborando planos em vez de apenas executá-los. “Ele deve se reposicionar enquanto profissional, deve se rebelar, no bom sentido. E deve fazer isso para ele e para outros gestores, porque uma andorinha só não faz verão”, ilustra Cláudio.
Essa mudança, para ele, implica também no planejamento de capacitações para a própria equipe de TI usando plataformas de educação corporativa.
“A integração entre tecnologia e educação em hospitais é uma página virada, isso já foi superado. Funciona muito bem. O que falta ainda são os CIOs definirem um plano de capacitação em saúde digital. Entenderem que eles podem influenciar nos conteúdos”.
Parceria com o Medportal
Há um ano, a Folks criou a Folks Academy, para oferecer cursos a executivos e demais trabalhadores da saúde utilizando utilizando a tecnologia do Medportal. Cláudio destaca a rapidez na implantação e o apoio do Medportal para maior agilidade na disponibilização do conteúdo. Afirma que esse período foi de grande aprendizado.
“Vimos que microaulas de até 10 minutos funcionam melhor. O participante pega aquele conteúdo e internaliza. Também realizamos momentos síncronos para tirar dúvidas e provocar questionamentos nos alunos”, afirma.
Segundo ele, a parceria deu tão certo que o programa será expandido nas próximas semanas com o lançamento da Digital Health Academy. “Teremos uma oferta maior de cursos, com conteúdo de outras instituições e participação de professores renomados”, explica.
Além disso, o objetivo agora é criar uma matriz de competências para um plano de desenvolvimento de carreira do participante. “Não vamos deixar o aluno solto. Ele vai escolher uma trilha de acordo com seus objetivos profissionais. Se daqui a dois anos ele quer estar em determinada posição, que competências ele precisa adquirir para chegar lá?”, finaliza Cláudio.